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Fluxo de caixa em tempos de incerteza

Em cenários de incerteza no ambiente econômico empresarial, choques externos afetam o crescimento das empresas, tornando as receitas mais voláteis e dificultando a previsibilidade de lucro em períodos futuros.

Nesse contexto, gerenciar o fluxo de caixa da companhia pode se tornar uma tarefa complexa, pois devem-se adaptar níveis de saldo em caixa para dar liquidez ao negócio, o ciclo de pagamento a fornecedores, recebimento de clientes, níveis mínimos de investimentos, entre outras decisões, que influenciam a criação ou destruição do valor futuro da empresa.

O que é fluxo de caixa?

O fluxo de caixa é uma ferramenta de gestão empresarial para lidar com decisões de investimento e financiamento corporativo. Esta ferramenta é composta por entradas e saídas de recursos que geram o lucro da empresa no exercício.

A gestão de caixa pode ser analisada em três direções: 1) atividades operacionais, de 2) investimento e 3) financiamento.

  • Atividades operacionais: estas atividades refletem a operação do negócio e traduzem o fluxo de entradas e saídas da venda de produtos, bens e serviços. Nas entradas têm-se as receitas das vendas de produtos. Nas saídas relacionam-se os gastos que foram gerados para produzir o produto da empresa, tais como insumos de produção, despesas gerais, administrativas, vendas e impostos.
  • Atividades de investimento: representam entradas e saídas de recursos para gerar valor ao acionista. A entrada de recursos nessa linha advém da venda de (i) ativos fixos (máquinas, terrenos, etc.) ou (ii) instrumentos financeiros (recebimento de juros, dividendos, etc.). A saída representa os gastos para a manutenção do nível de investimento da empresa (fusões, aquisições e investimentos de longo prazo).
  • Atividades de financiamento: são as atividades que financiam a operação da empresa. Entradas de recursos nesta linha do fluxo de caixa contemplam a emissão de ações, títulos de dívida (antecipação de recebíveis e debêntures) ou empréstimos bancários. Já as saídas nesta categoria representam o pagamento de empréstimos, juros, dividendos, recompra de ações e títulos de dívida.

Na estrutura do fluxo de caixa, ambas as linhas de atividades operacionais e de investimentos estão ligadas a concepção de ativos, bens e direitos. Já a linha de financiamento representa a captação de fundos externos para viabilizar a operação do negócio. Estes fundos são financiados via credores, acionistas ou operações de finanças estruturadas.

Gerenciar o caixa é uma tarefa simples?

Há um ditado muito popular em finanças corporativas que diz que empresas não quebram por falta de lucro, mas por falta de caixa. Esta máxima é verdadeira quando há um descompasso entre o resultado apresentado pelo regime de competência contábil e o regime de caixa.

Por exemplo: uma empresa pode apresentar um lucro contábil registrado no regime de competência em 31 de dezembro de um determinado ano, mas receber este valor somente em períodos futuros. Enquanto isso, mesmo sem entrada de recursos em caixa, a empresa continua a ter que pagar seus funcionários, fornecedores, impostos, entre outras obrigações no curto prazo.

Se a empresa não possui caixa para financiar suas necessidades de capital de giro, ela não possui liquidez corporativa. Caso ela não possua liquidez para quitar suas obrigações financeiras no curto prazo, ela pode entrar em uma situação de restrição de crédito ou dificuldade financeira (não gera fluxo de caixa para cumprir com suas despesas. Por consequência, se a situação piorar, o acúmulo de endividamento pode implicar na falência da organização.

Por isso, é muito importante saber como gerenciar o caixa.

Porém, em períodos de incerteza econômica como o que vivemos pela COVID-19 atualmente, gerir o caixa não é uma tarefa simples. Há muitas variáveis externas que dificultam projeção de resultados futuros pelos gestores.

Primeiro, em nível de país, há uma expectativa de redução do consumo das famílias pela redução do nível de emprego e massa salarial. Segundo, em consequência, haverá uma forte redução nos níveis de produção das empresas, reduzindo a oferta. Estes fatos, por si, já indicam que o resultado da linha de atividades operacionais do fluxo de caixa das empresas será fortemente reduzido.

Para equilibrar o ajuste nas atividades do fluxo de caixa, a empresa pode lançar mão de algumas estratégias, nas quais falaremos a seguir.

Estratégias operacionais para a gestão do fluxo de caixa

Nas atividades operacionais, como estratégia financeira, a empresa pode reduzir o nível de produção ou estoque, bem como reduzir despesas administrativas ou comerciais. Este momento é oportuno para realizar um planejamento tributário e buscar formas para reduzir o nível de despesas de impostos pagas.

Outra forma de criar folga financeira por meio das atividades operacionais consiste em reformular o ciclo de caixa da empresa. O ciclo de caixa é composto por três níveis:

(1) o ciclo econômico, que corresponde ao prazo de aquisição de mercadorias, pagamento de fornecedores e a venda;

(2) o ciclo financeiro, que inclui o período entre o pagamento dos fornecedores até o prazo de recebimento do pagamento dos clientes; e o

(3) ciclo operacional, que corresponde a junção dos ciclos econômico e financeiro, isto é, o ciclo completo.

Na prática, em momentos de incerteza sugere-se a criação de estratégias para alongar o prazo de pagamento de fornecedores, reduzir o prazo de pagamento de clientes, fornecer descontos e revisar o preço de venda. Mantenha estoques mínimos e eleve o giro de estoque. Antecipe seus recebíveis (através de um FIDC, por exemplo) e reduza a necessidade de capital de giro da empresa. Esta estratégia cria fôlego para a companhia.

Estratégias de investimento para a gestão do fluxo de caixa

Nas atividades de investimento a empresa pode gerar caixa por meio do desinvestimento, tal como a venda de terrenos, máquinas e plantas industriais ou ativos financeiros. Outra forma de gerar caixa é pela cobrança e recebimento de juros e dividendos de controladas e coligadas ou de empréstimos concedidos a terceiros.

Caso a empresa opte por não desinvestir, ela pode equilibrar o fluxo de caixa paralisando temporariamente a aquisição de novos empreendimentos ou projetos em execução, reduzindo gastos para a manutenção do capital.

Estratégias de financiamento para a gestão do fluxo de caixa

Já nas atividades de financiamento, é comum pelas empresas reduzirem ou alongarem dívidas de curto prazo para a manutenção das necessidades de capital de giro e antecipar recebíveis. Nada impede que a empresa também capte recursos de longo prazo, ainda mais circunstâncias de juros baixos, caso a empresa não visualize risco de continuidade da operação.

Outras estratégias para gerenciar o fluxo de caixa a partir das atividades de financiamento é utilizar a recompra de ações, renegociar dívidas de curto e longo prazo, alongando o prazo de pagamento ou reduzindo o valor da parcela, suspender o pagamento de juros e dividendos aos acionistas, reter lucros dos períodos anteriores e criar uma reserva para contingências.

Em suma, as estratégias apresentadas, se utilizadas de maneira estruturada, podem criar segurança para a condução dos negócios em tempos de incerteza. De modo geral, a lição aprendida é que em períodos de dificuldades devemos reduzir o máximo de gastos possíveis, criar um caixa para amortecer despesas e rebalancear a estrutura de capital.

Estas estratégias ajudam a equilibrar e gerenciar o fluxo de caixa em períodos de incerteza. Assim, a empresa poderá manter a essência da operação e adaptar seu fluxo financeiro às externalidades econômicas que influenciam à sua operação no momento.

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